NEGÓCIOS

Empresas brasileiras investem em robôs que assumem trabalhos mais arriscados

De 'cachorro-robô' para a mineração a máquinas autônomas para o campo, os robôs móveis para aplicação industrial têm crescido no País.

‘Com o robô eliminamos riscos pertinentes às atividades de inspeções’, diz Rayner Teixeira, responsável pelo desenvolvimento do robô Anymal na Vale Foto: RAPHAEL PORTILHO/VALE/DIVULGAÇÃO

Empresas brasileiras estão acelerando os investimentos em robôs móveis para realizar trabalhos considerados mais perigosos no lugar de empregados – e, claro, de forma mais eficiente. Desde o cachorro-robô de quatro pernas até veículos movido por rodas e esteiras, a tecnologia está assumindo o risco em serviços expostos a altas temperaturas, grandes alturas e a produtos químicos em diferentes setores.

Maior empresa do País, a Vale está concluindo a aquisição de um “cão-robô”, chamado Anymal, por aproximadamente R$ 1 milhão (180 mil francos suíços). O robô quadrúpede criado pela empresa Anybotics, da Suíça, com seu rostinho inofensivo, foi adaptado para as operações de fiscalização na área de mineração com apoio de uma equipe da Vale.

O “cão-robô” realizou neste ano uma prova de conceito na usina de Cauê, em Itabira (MG). Planejou rotas, subiu e desceu escadas, exibiu um mapa da área sob inspeção. Focou ainda em objetos e instrumentos, transmitindo imagens, inclusive com medições de temperatura. No fim do teste, executivos da Vale estava convencidos de que precisam ter um daqueles.

“Com o robô eliminamos riscos pertinentes às atividades de inspeções, como partes rotativas de equipamentos, ruído e poeira”, diz Rayner Teixeira, analista operacional responsável pelo desenvolvimento do Anymal na Vale. “O robô também nos dá acesso a espaços confinados, como o interior de um moinho.”

Além da compra do Anymal, a Vale desenvolve seus próprios robôs, o que consumiu investimentos de R$ 2,5 milhões nos últimos anos. Um deles é o EspeleoRobô, projetado inicialmente para mapear cavernas próximas das minas, utilizando rodas e esteiras. A tecnologia foi desenvolvida pelo Instituto Tecnológico Vale (ITV), em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).  

Segundo a Vale, quatro unidades do EspeleoRobô estarão em operação, até o fim do ano, em áreas de cobre no Pará e de minério de ferro em Vitória (ES) e Itabira (MG). Serão colocados para realizar inspeções de moinhos de usina, dutos e outros ambientes confinados. “Esses robôs foram criados dentro da Vale pelos próprios empregados e são uma tecnologia em constante evolução”, diz Gustavo Pessin, do ITV.

Em relatório divulgado no início neste mês, a Federação Internacional de Robótica (IFR, na sigla em inglês) avaliou que o mercado de robôs móveis autônomos deverá crescer 31% ao ano até 2023 no mundo. A IFR explica que o acelerado avanço de hardwares e softwares está provocando um “boom” em vários segmentos do setor.

Petróleo

Um dos segmentos que devem puxar o crescimento do uso de robôs na indústria é o de petróleo, e já existem diversas aplicações na área sendo realizadas no Brasil. 

Imagine trabalhar pendurado a cerca de 30 metros de altura em alto-mar para pintar o casco de uma plataforma de 300 metros de comprimento. Para eliminar esse risco e aumentar a produtividade do serviço, a Petrobras desenvolveu o chamado “robô pintor”. Formado por cordas e rodas, além de um compressor de ar, ele é capaz de pintar 300 metros quadrados de superfície em uma hora, dez vezes mais rápido que um ser humano.

O uso de robôs não chega a ser uma novidade na Petrobras, pioneira em instalações submarinas. Na estatal, a fronteira está na combinação de automação com inteligência artificial e ambientes hostis. A companhia tem atualmente 15 projetos em carteira para desenvolvimento de robôs e drones com instituições de ciência e tecnologia, além de startups.

Juliano Dantas, gerente executivo do Centro de Pesquisas da Petrobras (Cenpes), explica que a companhia tem uma “fauna robôtica” os investimentos em robótica na companhia somam R$ 100 milhões, entre valores realizados e previstos para os próximos anos. Além do “robô pintor”, a Petrobras desenvolve uma espécie de “robô minhoca” – que desobstrui dutos de petróleo – e o CRAS, um robô escalador capaz de se locomover em superfícies quentes.

“O uso de robôs para realização de atividades diversas de forma autônoma em ambientes sujeitos a interferências, salinidade e potencial presença de atmosfera explosiva é um desafio tecnológico importante para a indústria de óleo e gás. O avanço tecnológico que estamos experimentando agora permitirá levar a robótica a ter um papel ainda mais essencial na indústria de óleo e gás”, diz Dantas.

Agricultura

Essa transformação das máquinas autônomas também começou no campo. Fabricante de máquinas agrícolas, a brasileira Jacto desenvolveu um robô autônomo pulverizador de pomares, chamado Arbus 400 JAV. O veículo sobre rodas tem a parte dianteira semelhante a um rosto e espécie de braços de pulverização, no melhor estilo da série de filmes Transformers. O robô tem mesmo um laser de escaneamento para medir a altura da planta e pulverizá-la.

Fernando Gonçalves Neto, diretor presidente da Jacto, explica que o veículo é autônomo, sem necessitar de um operador embarcado. O operador acompanha o robô à distância, por meio de câmeras e pode gerenciar mais de um veículo de cada vez. “Quando o veículo é autônomo, caso haja névoa química ou excesso de ruído, o operador não estará embarcado. É um benefício de segurança”, afirma Gonçalves Neto.

A Jacto tem um centro de pesquisa próprio, com cerca de 150 profissionais de diferentes formações. O Arbus 400 JAV foi apresentado ao mercado no ano passado. “Por enquanto, oferecemos a máquina de forma alugada. Objetivo é criar a cultura do equipamento nos produtores”, disse o executivo, para quem haverá demanda nos próximos anos para a máquina. Ele não abre o valor investido no projeto.

Por: Bruno Villas Bôas, O Estado de S.Paulo